“Não morre quem lutou
Não morre um ideal”
“Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!”. Augusto Boal.
Um dos maiores dramaturgos, diretor e ensaísta do Brasil nos deixou este sábado. Aos 78 anos, ás 02h40 da madrugada, Boal veio a falecer por insuficiência respiratória, vítima de Leucemia, no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. “Uma grande perda. Ele foi um homem que sempre lutou com todas as forças para a mudança social através da arte”, declara o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
No enterro, que aconteceu no Cemitério do Caju, na zona portuária da cidade do Rio de Janeiro hoje, estavam muitos amigos, admiradores e parentes. E para demonstrar o reconhecimento por este homem de teatro, todos mergulham no conceito que ele sempre pregava: “Os atores são os próprios espectadores, o palco é a platéia e a platéia, palco”. Recebido de pé, com muitos aplausos como em um grande espetáculo. “A gente sempre diz que os mortos são insubstituíveis, mas Boal, de fato, o é. Ele é um dos deuses do arquipélago do teatro, um dos mitos da nossa religião. É uma perda irreparável”, lamentou Aderbal Freire Filho, grande amigo e que esteve com ele na sala de espera do consultório do Dr. Flavio, médico de Boal, antes do internamento.
“Todos os seres humanos são atores – porque atuam – e espectadores porque observam. Somos todos ‘espec-atores”. Este lema, é o fundamento de um dos legados de Boal: o Teatro do Oprimido, criado por ele na década de 60, e que lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 2008. Ainda no ano passado, no dia 16 de março, mesmo dia do nascimento de Boal, foi instituído o Dia Mundial do Teatro do Oprimido.
Hoje, a metodologia do Teatro do oprimido é difundido por todo o mundo, nas três últimas décadas do século XX mais precisamente. A sua relevância vai além do teatro, está no instrumento de emancipação política nas mais diversas áreas: educação, saúde mental e no sistema prisional. Suas teorias sobre o teatro são estudadas nas principais escolas de teatro do mundo.”Boal reinventou o teatro político e é uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislavski”, afirmou o jornal inglês The Guardian.
Saiba mais sobre Augusto Pinto Boal ….
Ele nasceu em 16 de março de 1931, na Penha, bairro da zona Norte do Rio. Boal chegou a se formar em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, em 1950, mas viajou em seguida para os EUA, onde estudou artes cênicas na Universidade de Columbia. Na década de 70, por estar exilado do país pela ditadura militar, difundiu seu método pela Europa.
De volta ao Brasil, sua primeira peça como diretor do Arena foi Ratos e Homens, de John Steinbeck, que lhe rendeu o prêmio de revelação da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Dirigiu ainda, entre outras peças, Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, e Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho. Foi o diretor do espetáculo Opinião, com Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão, que passou para a história como um ato de resistência ao golpe militar de 1964.
matéria por Carla Maciel